Quando algo está muito ruim na nossa sociedade, a ponto de não evoluir em nenhum aspecto, certas pessoas conseguem se destacar por mudar a visão de algo que as incomoda não só pessoalmente como no meio social, foi então que Paulo Freire, professor e filósofo pernambucano, resolveu revolucionar a educação tão sofrida e desgastada.
Saberemos mais sobre esse grande educador nessa publicação.
O trabalho pedagógico de Paulo Freire na cidade de Angicos/RN
No ano de 1963, na cidade de Angicos, Paulo Freire organizou, com outros professores, uma escola de alfabetização de adultos. O objetivo não era só criar leitores, mas ensinar didaticamente sobre política e filosofia como meio de valorizar a vida das pessoas, assim como ensinar sobre os direitos trabalhistas ao povo humilde.
O ensinamento consistia em trabalhar em cima de palavras do cotidiano do trabalhador agrário, por exemplo enxada, pá, barro etc. Dessa maneira, pode-se trabalhar a escrita de maneira palpável, por exemplo, a partir da sílaba ti se explana sobre a letra t. Dessa forma, em 40 horas, Paulo Freire educou 300 trabalhadores.
Qual era o nível socioeducativo do povo de Angicos?
Desde a época do coronelismo no interior dos estados do Nordeste, é muito mais confortável para os patrões que seus trabalhadores não entendam nada da sociedade, política e muito menos filosofia, pois assim podia usar dessa característica para explorar os trabalhadores do jeito que quisessem, por muitas vezes até escravizar.
Assim era o nível de educação do trabalhador agrário em Angicos, em sua maioria, analfabetos e sem entendimento da política social, sem saber o quanto estavam sendo explorados pois para eles era daquele jeito e ponto final, não sabiam se existia algo diferente, afinal, sempre foi assim.
Como estava o Brasil e o mundo no período que antecedeu a Revolução de Angicos?
O Brasil vinha em ritmo acelerado de crescimento devido a forte política de Juscelino Kubitschek, que gerou também uma mega dívida externa, mas mesmo assim Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960. No dia 31 de janeiro de 1961, Jânio Quadros se tornou o primeiro presidente da República a tomar posse na nova capital.
Enquanto isso, a educação era uma coisa mecânica e sem vida, chamada de Educação Bancária, aprendendo quem podia pagar, onde o professor despejava ensinamentos no aluno, tratando-o como um invólucro vazio, método totalmente ineficaz e errado para Paulo Freire, e daí ele começa a sua tão famosa revolução.
O método Paulo Freire em Angicos/RN
O primeiro experimento em larga escala de Paulo Freire foi o de Angicos, que envolveu 300 trabalhadores agrários analfabetos, consistiu em juntar professores e abrir uma escola. O método de ensino dele diz que o professor tem que conhecer o aluno para saber de onde ele vem, um pouco de sua vida e assim fortalecer o aprendizado baseado nisso.
Estes método frisa a importância do diálogo entre aluno e professor, para poder animar o aluno e assim aplicar o conhecimento fazendo do seu dia a dia melhor. O professor e aluno eram vistos como iguais, deixando de lado a hierarquia monárquica do professor. Tudo isso torna a vida em sala de aula mais dinâmica, prática e agradável.
Juntando tudo isso, em 40 horas, Paulo Freire e outros professores, educaram 300 trabalhadores, seu método foi tão bom e importante usado até hoje em diversos lugares (principalmente em Angicos), mas, infelizmente, ainda não abrange o Brasil por completo, Paulo Freire é mais respeitado fora do Brasil do que dentro.
A educação, politização e conscientização do povo no Nordeste
Após anos de coronelismo, o Nordeste passava por uma vasta febre de analfabetismo, raras eram as pessoas que sabiam ler e escrever, ou até saber o que estava acontecendo no Brasil, em termos políticos e sociais. A maioria votava em quem o patrão mandasse, o chamado Voto de Cabresto. Paulo Freire chegou para acabar com isso.
Após o sucesso que foi a cidade de Angicos, o exemplo de Paulo Freire foi espelhado em cidades do Nordeste, sendo alguns dos principais projetos;
- Movimento Cultural Popular: aconteceu em Recife/PE, movimento de alfabetização de adultos e de educação de base constituído em maio de 1960 por estudantes universitários, artistas e intelectuais, em ação conjunta com a prefeitura, extinto pela Ditadura Militar em 1964;
- “De pé no chão também se aprende a ler”: aconteceu em Natal/RN, através do prefeito Djalma Maranhão, com apoio do governador Aluísio Alves, levou a cidade a vivenciar a experiência de um governo voltado às demandas populares e que buscava erradicar o analfabetismo;
- Ceplar e MEB: aconteceu em João Pessoa/PB, Campanha de Educação Popular da Paraíba (CEPLAR), criada por profissionais recém formados, oriundos da JUC – Juventude Universitária Católica e por estudantes em janeiro de 1962 e o Movimento de Educação de Base (MEB), criado em janeiro de 1961 pela CNBB – Conferência Nacional de Bispos do Brasil, com o apoio da Presidência da República, João Goulart.
Estes projetos são alguns de muitos que foram fomentados no período.
A reação das classes dominantes e Golpe de 1964
Enquanto tudo ia bem e os projetos de Paulo Freire, e os influenciados por ele, iam dando cada vez mais certo, eis que o Golpe Militar ocorre em 1964, acabando de vez com quaisquer planos que o governo tinha junto à metodologia de Paulo Freire.
Paulo Freire foi interrogado e pressionado pelos militares, pois suas ideias eram consideradas revoltosas e iam de contra as ideias do regime militar. O método dele fazia as pessoas terem pensamento político e conhecerem mais sobre seus direitos, o que incomodou os donos de grandes empresas e classes dominantes.
Em 1° de julho de 1964, Paulo Freire foi levado a uma delegacia, onde fez um depoimento e após um interrogatório para saber sobre a periculosidade de seus métodos, ele foi preso. Passou 70 dias preso e mesmo após solto ainda era obrigado a ir regularmente ao Exército registrar suas atividades. Um pouco depois, buscou exílio na Bolívia.
Em 7 de agosto de 1979, ele retornou ao Brasil sendo recebido por uma festa no aeroporto de Viracopos, em Campinas/SP.
A obra de Paulo Freire para o mundo
Paulo Freire é o brasileiro mais homenageado do mundo. Ele tem 29 títulos de Doutor Honoris Causa, dado por universidades da Europa e América. Ele recebeu o prêmio da Educação pela Paz da Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
Seu livro “Pedagogia do Oprimido” é a terceira obra mais citada em trabalhos na área de humanas e está na lista das 100 pessoas mais citadas em estudos no mundo.
Paulo Freire é imensamente injustiçado no Brasil pela falta de mais estudos sobre seu método e aplicações do mesmo, infelizmente ainda vivemos numa sociedade preconceituosa com o mais humilde, o mais pobre, a classe dominante, ricos e donos de grandes empresas brasileiras, que preferem que os subordinados sejam menores intelectualmente.
Nos resta fazer nossa parte e cada um usar dos ensinamentos freirianos, que começou lá em 1961 em Angicos, dar o devido valor ao maior educador da história do Brasil.
