Os massacres de Cunhaú e Uruaçu
Você conhece os massacres de Cunhaú e Uruaçu? O Brasil e o mundo já teve diversos momentos de felicidade, assim como presenciou diversos momentos sangrentos também, entre estes momentos temos os chamados massacre de Cunhaú e Uruaçu que marcou diversos moradores da região e ficou registrado no seu calendário como um feriado, mas que ainda é desconhecido por muitos potiguares sendo um dos maiores massacres na história imposta pela colonização, que o país viveu.
O Massacre de Cunhaú e Uruaçu é o nome dado a dois massacres contra luso-brasileiros que ocorreram no Rio Grande do Norte bem lá atrás no século XVII, nos dias 16 de julho e 3 de outubro em 1645, dizendo ser ambos executados por holandeses, sendo 3 de outubro o massacre de Cunhaú e Uruaçu e em 16 de julho em Cunhaú a mando de Jacob Rabbi.
E tudo isso pois o povo daquela época não aceitou a imposição dos holandeses sobre influência militar, cultural e da sua religião protestante calvinista, se tornando um momento ímpar da história potiguar de resistência, fé e de defesa dos princípios de liberdade, mas acabaram sendo mortas todas as famílias que viviam naquele povoado. Mas afinal, como tudo isso aconteceu e quem estava presente naquele dia que marcou tanto na história? Vamos conhecer mais então.
Os massacres de Cunhaú e Uruaçu
Os episódios dos massacres de Cunhaú e Uruaçu ocorrem em meio a uma crise no mercado do açúcar que acontecia na época e, ao levante de colonos portugueses e brasileiros contra o domínio holandês, tendo tomado a Fortaleza dos Reis Magos, em 1633, os holandeses passaram a chamar Natal de “Nova Amsterdã” e a Fortaleza de “Castelo Keulen” o deslocamento das forças seguiu devastadora para o interior do estado.
Existia um certo povo denominado Engenho Potengi, que hoje é atualmente o município de São Gonçalo do Amarante, segundo registros esse povo pertencia a Estevão Machado de Miranda, cuja família assim também como os habitantes do povoado resistiram aos ataques dos holandeses.
Mas antes de tudo, precisamos entender quem era Jacob Rabbi que tanto teve influência nisso tudo.
Jacob Rabbi foi um alemão que veio ao Brasil com o conde Maurício de Nassau em janeiro de 1637, ele era o comandante sanguinário da tropa de tapuias, potiguares e holandeses, sendo inicialmente apontado como um intérprete entre os holandeses e os tapuias.
Rabbi era um imigrante de Waldeck para a Holanda, onde foi contratado pela Companhia das Índias Ocidentais Holandesas, depois que Rabbi veio ao Brasil ele casou-se com uma indígena Janduí de nome Domingas e tinha boas relações com os nativos com quem viveu durante quatro anos, morou depois em um sítio de sua propriedade chamado na época de Ceará junto a sua esposa nativa, Rabbi assimilou os costumes nativos, num verdadeiro processo de “indianização.”
O homem deixou um importante relato de toda sua viagem contendo algumas informações como a geografia da capitania e descrições sobre os Janduís, tudo estava escrito em latim tendo o título de “De Tapuiyorum moribus et consuetudinibus ex relatione Jacob Rabbi, qui per aliquot annos inter illos vicherat” que significava “A moral e os costumes dos Tapuias com Jacob Rabbi, que viveu vários anos entre eles” Ainda sim, não demorou muito para sua máscara cair e que a história fosse de testemunha da sua real função no país.
Ele foi considerado, pelos historiadores alguém abominável, uma figura sinistra e hedionda do domínio holandês no Nordeste do Brasil, ele possuía consigo diversos guerreiros Janduís e Potiguares, então Rabbi foi responsável por diversos saques e chacinas em engenhos das capitanias do Rio Grande, Paraíba e Pernambuco, naqueles saques ele lucrava com gados, roupas, jóias e outros bens sendo tomado a força dos índios janduís fazendo Rabbi acumular uma pequena riqueza.
Por fim, em uma noite no ano de 1646 no quarto dia do mês de abril, Jacob Rabbi foi morto em natal de modo violento seguido de tiros e cortes de espada, a maioria dos historiadores defendem que a morte de Jacob Rabbi foi planejada pela Companhia das Índias Ocidentais na qual ele fazia parte com o intuito de dar um basta às atrocidades do alemão.
Agora que sabemos quem é Jacob Rabbi, vamos aos massacres de Cunhaú e Uruaçu para tentar entender essa tragédia
O massacre de Cunhaú
Jacob Rabbi e seu grupo de índios janduís e potiguares além de soldados holandeses, chegaram ao engenho Cunhaú, hoje atual município de Canguaretama, em 15 de julho de 1645 sendo um dia antes do massacre ocorrer, estando lá, ele se apresentou como emissário do Supremo Conselho Holandês de Recife e convocou a população para uma reunião, pedindo-os para aparecerem no local após a missa no dia seguinte, sendo o dia 16 o horário marcado para uma suposta reunião, um domingo na capela de Nossa Senhora das Candeias.
A notícia se espalhou e, conhecido pelos moradores de Cunhaú, Rabbi era visto como sinônimo de ódio e destruição por onde passava provocando medo e temores por parte dos homens que lá viviam.
O dia se passou e, os historiadores estimam que estavam 70 fiéis presente no lugar, cumprindo apenas o preceito religioso, não portando armas sendo que, tudo aconteceu rápido semelhante ao tempo que levamos para piscar os olhos, durante a celebração após a elevação da hóstia, os soldados holandeses trancaram todas as portas da igreja e depois de um sinal de Rabbi, os índios invadiram o local e chacinaram os colonos.
Dizem relatos posteriores de alguns emissários do governo holandês que investigaram o episódio, que foi um momento de cena brusca cheia de violência, atrocidades e requintes de crueldade contra os fiéis que estavam desarmados e não tinham como resistir tendo como única escolha se entregarem à morte.
Atendendo aos pedidos de conselho do padre André de Soveral presente no local que estava a celebrar há missa, muitos foram executados em meio às orações, assim como também o próprio padre foi morto a punhaladas mas antes de morto ele ainda disse aos indígenas para não tocar nas pessoas ou nas imagens e objetos do altar, porque teriam suas mãos e partes do corpo seriam cortadas caso o fizessem.
Contudo, os potiguares em exceção dos supersticiosos e mais acostumados a religião dos portugueses, não se intimidaram e prosseguiram com o ataque, além disso os holandeses eram calvinistas e acredita-se que tudo isso foi mais um gatilho para o massacre de Cunhaú, sendo a intolerância ao catolicismo.
Por fim, sabendo de todo aquele tumulto, algumas pessoas tentaram se refugiar na casa do engenho, mas não adiantou e tiveram um fim semelhante ao das que estavam na capela, os flamengos e os índios invadiram a casa, ainda houve uma certa resistência comparado ao caso anterior e três colonos conseguiram escapar pelo telhado, mas a superioridade numérica dos índios e dos holandeses acabou prevalecendo. Depois da chacina, o engenho foi saqueado.
Podemos entender que os massacres de Cunhaú e Uruaçu:
Os acontecimentos listados abaixo são os principais pontos para a situação na região se desenrolar.
- Foi marcada uma reunião um dia antes de toda carnificina, na qual serviria apenas como uma armadilha.
- Não houve piedade nem temor diante o catolicismo, sendo vista como uma intolerância ao mesmo.
- Jacob Rabbi se apresentou como emissário do Supremo Conselho Holandês de Recife numa tentativa de ganhar confiança e atrair o máximo de pessoas possíveis para seu plano distorcido.
- Seu plano foi facilitado pois os colonos estavam todos desarmados.
- Eles se aproveitaram do ocorrido para saquear diante todo genocídio que haviam feito.
- O pânico causado pelo Massacre de Cunhaú, dando início ao de Uruaçu.
- As atrocidades logo continuaram no Rio Grande do Norte, antes apenas Rio Grande.
- Os acontecimentos de Cunhaú ganhou conhecimento e rapidamente se espalharam por toda a capitania do Rio Grande assim também espalhando pelas capitanias vizinhas. Com toda essa notícia repentina a população ficou assustada e temia constantemente outro ataque dos tapuias e potiguares, estimulados pelos holandeses.
O medo se tornou realidade e depois de três meses após aquelas atrocidades em Cunhaú, no dia 3 de outubro de 1645, aconteceu um genocídio no qual 80 pessoas foram mortas por holandeses, na comunidade de Uruaçu, em São Gonçalo do Amarante, distante cerca de 18 km de Natal, que hoje é a atual capital do estado, o acontecimento também estava sob comando de Rabbi que foi ajudado pelo chefe da tribo potiguar Antônio Paraupaba, que havia sido “educado” pelos holandeses.
Entre as pessoas mortas neste dia estava o camponês Mateus Moreira, segundo o que ficou registrado por cronistas da época, ele teve o coração arrancado pelas costas e antes de perder sua vida publicamente diante os holandeses teria dito “louvado seja o Santíssimo Sacramento”.
Depois do massacre em Cunhaú que acabou alertando diversas pessoas, alguns moradores influentes, liderados pelo padre Ambrósio Ferro, que exercia as funções de vigário Natal, pediram abrigo no Castelo Keulen, nome dado a Fortaleza dos Três Reis Magos, em Natal. Os que não foram com o padre construíram uma paliçada para proteger a localidade conhecida como Potengi.
O número de moradores que ficaram refugiados na paliçada é incerto, alguns cronistas portugueses dizem ser 70 homens, mas existem documentos holandeses que citam 232 pessoas, essa duvida torna os massacres de Cunhaú e Uruaçu ainda mais assustadores pela falta de informação, além disso, pesquisas em documentos holandeses e portugueses mostram que a paliçada do Potengi ficou cercada por 16 dias, sendo iniciada em setembro pela equipe de Rabbi e, depois contou com reforços enviados pelo Castelo de Ceulen incluindo duas peças e artilharia, o bombardeio forçou a rendição dos luso-brasileiros.
Ocupada a paliçada do Potengi, os homens holandeses levaram consigo cinco reféns para o Castelo de Keulen, os demais colonos que ficaram para trás foram confinados na paliçada e no dia 2 de outubro chegou a ordem do conselho holandês para que executassem os principais líderes dos colonos, desestimulando toda a revolta em terras do Rio Grande, não é de certeza que a ordem foi feita, mas o fato é que realmente os líderes foram mortos no dia seguinte sendo 03 de outubro de 1645, o padre Ambrósio Francisco Ferro também estava incluído.
Ao chegar em Uruaçu a tropa formou uma pequena formação de defesa e, no interior ficaram o sacerdote e os colonos sendo que em seguida foi dada a ordem para que eles se despissem e se ajoelham sendo tal atitude claramente uma humilhação, em seguida Rabbi chamou os nativos para que fosse feita a conclusão da “pequena” tarefa, finalizando o massacre e sem mais nem menos há crueldade foi ainda maior, os torturados tiveram seu corpo desmembrado tendo seus braços e pernas decepados, crianças foram partidas ao meio e grande parte dos corpos foram degolados.
Após a morte deles o genocídio ganha continuidade aos que estavam refugiados em Potengi, depois de terem sido retirados da paliçada e levados para o mesmo porto terminando o trabalho, apesar disso esse não seria o fim histórico dos massacres de Cunhaú e Uruaçu.
Recapitulando os massacres de Cunhaú e Uruaçu
- Os colonos já estavam cientes do massacre ocorrido a três meses atrás e tentaram se precaver caso viesse a ocorrer novamente, mas tiveram sua linha de defesa arruinada como se fosse nada.
- Naquele dia, 3 de outubro se deu início um segundo massacre e foram mortas cerca de 80 pessoas
- Rabbi teve ajuda do chefe ingênuo da tribo potiguar que estava sob influência dos holandeses.
- Os massacres de Cunhaú e Uruaçu foram igualmente assustadores assim como o primeiro massacre, podemos ter noção da brutalidade através do camponês Mateus Moreira que teve seu coração arrancado pelas costas.
- Algumas pessoas estavam distantes pois seguiram o padre Ambrósio Ferro e se abrigaram no Castelo Keulen, outros que não foram com o padre construíram uma paliçada para proteger a localidade conhecida como Potengi, mas foi tudo em vão, a paliçada foi cercada e invadida e o padre Ambrósio Ferro foi morto.
- Diversos líderes foram mortos, dentre eles estavam Antônio Vilela, Cid, seu filho, Antônio Vilela Júnior, João Lostau Navarro, Francisco de Bastos, José do Porto, Diogo Pereira, Estevão
- Machado de Miranda, Francisco Mendes Pereira, Vicente de Souza Pereira, João da Silveira, Simão Correia e o próprio padre Ambrósio Francisco Ferro.
Sendo esses dias e momentos de terror sem piedade ou hesitação, foram realizados dois massacres de Cunhaú e Uruaçu naquele mesmo ano de 1645 conhecidos como “Os massacres de Cunhaú e Uruaçu.” Muito sangue foi derramado, e o papa João Paulo II em março de 200 beatificou os mártires de Cunhaú e Uruaçu como exemplos de fé cristã e defensores da igreja Católica.
Ainda no mesmo ano foi decretado o feriado de 3 de outubro, sendo uma data simbólica igualmente sendo lembrados em 16 de julho. Tudo foi registrado por diversos cronistas da época tendo um desses registros narrado em detalhes em uma carta de Lopo Curado Garro de 1645.
Para aliviar!
Depois de ler sobre essa tragedia que faz parte da historia do Rio Grande do norte, vamos tentar aliviar um pouco o humor, então aproveite essa chance para ler nosso artigo sobre: Praias Rio Grande do Norte.